Hiper-realidade

Deverei
eu

enfeitar
uma metáfora

com
uma flor de amendoeira?

Crucificar
a sintaxe

sobre
um efeito de luz?

Quem
é que vai quebrar a cabeça

com
coisas tão fúteis?

Aprendi
a entender as coisas

com
as palavras

que
existem

(para
a classe mais baixa)

(…)

Os
outros sabem

sabe
Deus

o
que fazer com as palavras.

Eu
não sou o meu médico assistente.

Deverei
eu

prender
um pensamento,

conduzi-lo
à cela iluminada de uma frase?

Alimentar
o olhar, o ouvido

com
nacos de palavras de primeira qualidade?

Estudar
a libido de uma vogal?

Investigar
a cotação erótica das nossas consoantes?

Terei
eu, com a cabeça desfeita pelo granizo,

(…)

sob
o peso de trezentas noites,

de
rasgar o papel,

varrer
as tramas de óperas de palavras,

destruindo
assim: eu tu e ele ela isso

Nós,
vós?

(Devo(?).
Devem os outros(!…).)

                                        

Adaptado de Poema de Ingeborg Bachmann in  Vibrissar

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