Orfeu Rebelde


Orfeu rebelde, canto como sou: 
Canto como um possesso 
Que na casca do tempo, a canivete, 
Gravasse a fúria de cada momento; 
Canto, a ver se o meu canto compromete 
A eternidade no meu sofrimento.
Outros, felizes, sejam rouxinóis… 
Eu ergo a voz assim, num desafio: 
Que o céu e a terra, pedras conjugadas 
Do moinho cruel que me tritura, 
Saibam que há gritos como há nortadas, 
Violências famintas de ternura.

Bicho instintivo que adivinha a morte 
No corpo dum poeta que a recusa, 
Canto como quem usa 
Os versos em legitima defesa. 
Canto, sem perguntar à Musa 
Se o canto é de terror ou de beleza.

                        Orfeu Rebelde – Letras de Miguel Torga

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