Canto do amigo morto

(…)
A noite desce sobre a cidade. Faz calor. A lua mergulha no espelho negro dos asfaltos, acende-se no fundo do rio.

Procuro-te nos rostos que passam. Sei que todos eles abrigam a tua morte. Nenhum deles evoca o sorriso que te pertenceu.

Qual deles, ao ser tocado, se metamorfoseará em vidro? E se quebrará nas minhas mãos.
(…)

És o amigo morto a quem continuo a enviar cartas a mim mesmo.
(…)
As tuas mãos queimam-me a fala.
(…)

O medo, o grande medo que se confunde com a serenidade, devora-nos.
E se nos tocarmos perderemos a inocência;
ou,
talvez tu morras
e eu
ressuscite.

In "O anjo Mudo" de Al Berto

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