Ficas. até amanhã.

(…)
Ficam os
olhares acesos do truque repetido. Ficam os abraços perdidos nas lutas
contra o corpo e contra o copo. Ficam os abraços perdidos na luz do
futuro e da água que partilhamos do mesmo golo. Ficam na minha pele
todas as coisas de que me vou esquecer a seguir. (…) Ficam nos meus
bolsos os restos das tardes e a dor que sobrou nunca mais sentida por
nenhum gráfico. Ficas tu e a tua sombra junto a mim e ao meu reflexo.
Ficamos parados no avanço da brutalidade da vida. Ficamos juntos apenas
na despedida à pressa que já ensaiamos vezes demais. Fico caída em mim
e aninhada em todas as verdades macias que beijamos de olhos fechados
nos cafés que revisitamos às vezes. Ficas algures num fio colorido
junto ao meu peito.
(…)
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