… Nenhum deles tinha a percepção dos outros, a sua solidão parecia a dos astronautas que deixam a nave para irem passear pelo espaço. Em volta do corpo, têm um fato superequipado, com oxigénio lá dentro, a temperatura e a pressão são as adequadas, entre o tecido e o corpo existe uma espécie de microcosmo. Lá fora, a escuridão e o silêncio que roçam o eterno. As pessoas que estavam na minha frente pareciam ter feito a mesma coisa, entre elas e o que havia à sua volta havia um cubículo de onde, provavelmente, retiravam respiração e alimento. E era graças a esse cubículo que se defendiam do mundo que as rodeava.
A grande foice da normalidade… Ao observar os loucos senti-me muito próximo deles. Conseguia perceber, com muita clareza, o que tinha acontecido nas suas vidas. Tinham-se cansado, mais nada. Em vez de continuarem a fingir, tinham enfiado o escafandro espacial.
Susana Tamaro – A alma do mundo